segunda-feira, 27 de setembro de 2010

COMENTÁRIOS ACERCA DE UMA LEMBRANÇA E UMA CANETA.

Antes, há algum tempo atrás,
eu me esforçava e tudo sempre
voltava para o início, contrariando
minha vontade e meu humor.

As folhas secas continuavam a cair,
as lâmpadas dos postes continuavam
a se apagarem quando eu passava,
os pombos não respeitavam quando
eu descansava sob alguma árvore,
a caneta falhava quando queria escrever
algo supostamente genial.

Não cheguei a construir uma casa na árvore
nem aprendi a fazer um origami de coração
para dar àquela garota. Tampouco me
convenci a aprender a tocar violão
para ser um poeta da música.

Chega uma hora então, e essa hora não tarda a chegar,
que os olhos cansam, a cabeça pesa, e todos os
planos que você nem chegou a traçar
se esvaem e dão adeus as possibilidade
de uma existência duradoura, ou não,
atraente ou repulsiva, encantadora ou infeliz,
mas que ainda, no final das contas seria
uma página escrita.

E a vida, nada mais é, dependendo da perspectiva,
do que um livro a ser escrito, uma tela a ser pintada,
um muro a ser grafitado, uma canção a ser composta,
uma dança a ser executada, um palco a ser desbravado.

Então aprendi e reconheci que a minha vida
tem rasuras, que por várias vezes escrevi
e por outras tantas vezes passei a borracha
em alguma palavra mal quista. Por isso aprendi,
principalmente, que mesmo não estando ali,
em palavras, as rasuras um dia significaram
algo que deveria ter sido escrito e que são
importantes a sua medida.

Eu não vou desistir em fazer minha casa da árvore,
talvez a farei com meus filhos, e talvez eu não fique de
mau humor quando algum pássaro fizer de minha
cabeça sanitário, e nem achar que é mau agouro
as lâmpadas do poste se apagarem quando passo.

Estou com a caneta e papel na mão.
E se esta caneta falhar, passo no mercado,
compro outra e vou levando.

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